SEGUNDA MAIOR CONSTRUTORA DO PAÍS TEVE PREJUÍZO DE R$ 418 MILHÕES NO PRIMEIRO SEMESTRE E MAIS DA METADE DAS 30MIL UNIDADES QUE TEM PARA ENTREGAR ESTE ANO ESTÁ ATRASADA
No dia em que acordou presidente da segunda maior construtora do
País, Carlos Augusto Piani, 38 anos, ganhou de seu antecessor uma camisa
branca, usada, com a logomarca da companhia bordada no peito. Vestiu o
presente ali mesmo, no escritório, para receber os cumprimentos dos
funcionários e dar sua primeira entrevista à imprensa.
Lugares-comuns à parte, o que a PDG queria mostrar ao
mercado naquele dia é que agora está sob o comando de alguém disposto a
“vestir a camisa” e “viver e morrer” pela empresa, nas palavras do
próprio Piani.
O tom dramático combina com a situação da PDG. A empresa deu prejuízo
de R$ 418 milhões no primeiro semestre e mais da metade das 30 mil
unidades que tem para entregar este ano está atrasada. Milhares de
famílias esperam as chaves há mais de seis meses. Em razão desse
cenário, a empresa foi a segunda do setor que mais perdeu valor em bolsa
este ano - só não desvalorizou mais que a Viver. Quando aceitou o
convite para se tornar o novo presidente da incorporadora, Piani já
sabia que teria tempos difíceis pela frente.
Ele é um dos sócios da gestora de recursos Vinci
Partners, que acabou de injetar R$ 486 milhões na PDG e se tornou a
maior acionista da incorporadora, com uma fatia de 9%. O aporte e o
possível retorno da Vinci como sócia da empresa foram anunciados em
maio, mas dependiam do sucesso de uma complexa transação financeira para
se concretizarem. Isso aconteceu na semana passada, para alívio dos
executivos da empresa e de investidores, que viam essa como a mais
importante cartada da incorporadora para se recuperar da maior crise de
sua história.
Apesar de jovem, Piani já tem no currículo uma
experiência bem-sucedida com outra empresa enroscada. Em 2004, com 30
anos, se tornou diretor financeiro e depois presidente da distribuidora
de energia do Maranhão, a Cemar, onde a Vinci também colocou dinheiro.
Na época, a Cemar estava quebrada e carregava o peso de
prestar o pior serviço do setor. No ano passado, a Cemar foi eleita pela
Aneel, órgão que regula o setor elétrico, a segunda empresa mais
eficiente entre as distribuidoras de energia. “É um caso de sucesso, mas
não significa que poderá ser copiado no setor imobiliário”, disse um
analista.
Até o início do ano, a PDG era, na verdade, um conjunto
de três empresas que funcionavam separadamente. Nos últimos meses, toda a
parte administrativa da PDG foi integrada. Cerca de 200 pessoas foram
desligadas da empresa, e os escritórios de Agre e Goldfarb passaram a
funcionar no mesmo local, em São Paulo. Agora, a empresa tenta, com a
consultoria do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), padronizar
seus canteiros de obra.
Carlos Piani chega exatamente nesse estágio. Ele disse que só anunciará
os próximos passos a serem dados na construtora daqui a 90 dias. Por
enquanto, preferiu um discurso tangencial. “Vocês terão de esperar para
ver qual é meu estilo”, disse aos analistas de mercado.
Sua primeira
tarefa, segundo executivos da empresa, não será fácil: caberá a ele
fazer as mudanças na cúpula da companhia e escolher entre os sócios,
fundadores das empresas adquiridas, quem tocará a operação. “Vestir a
camisa”, pelo visto, será a mais simples das missões do novo presidente.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.